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03.09.25

IIS reúne especialistas em evento para debater restauração de ecossistemas rumo à COP30

O IIS promoveu, no último dia 29 de agosto, o evento “Restauração de Ecossistemas para os Desafios Globais da Rio-92: Integrando Clima (UNFCCC), Biodiversidade (CDB) e Degradação da Terra (UNCCD)”. Representantes de governos, academia, setor financeiro e sociedade civil debateram a importância de ampliar as ações de restauração no país para combater a degradação da terra, a preservação da biodiversidade e o enfrentamento das mudanças climáticas.

“A ciência e a inclusão devem ser as bases para orientar decisões no país. O Brasil tem todas as condições de liderar esse movimento. Temos a maior biodiversidade do planeta, extensas áreas degradadas aptas à restauração e uma comunidade científica, política e social engajada”, afirmou Bernardo Strassburg, cofundador e diretor de ciência e inovação do IIS e professor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio, no balanço do encontro.

Aumentar os investimentos em sustentabilidade, promovendo também a justiça socioambiental e a inclusão de comunidades também foram temáticas debatidas durante o evento. A iniciativa integrou a programação da Rio Climate Action Week e antecipou discussões centrais para a COP 30, que acontece em novembro, em Belém, no Pará.

Na abertura, a diretora executiva do IIS e professora do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio, Agnieszka Latawiec, destacou que os desafios ambientais são interdependentes e exigem soluções conjuntas. “Desde a Rio-92 sabemos que o clima, a biodiversidade e a degradação da terra estão profundamente conectados. A restauração é uma oportunidade de integrar agendas, ampliar parcerias e transformar conhecimento em impacto. Não é apenas um compromisso ambiental, mas também um projeto de Estado e de sociedade”.

Já o diretor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio, Glaucio Marafon, que também participou da mesa de abertura, ressaltou a importância da territorialidade: “O ordenamento do uso da terra é fundamental para que políticas públicas de clima, biodiversidade e degradação alcancem resultados efetivos”, explicou.

Soluções integradas para o futuro

O primeiro painel discutiu a restauração como solução integrada para clima, biodiversidade e degradação, contribuindo para a implementação coordenada dos compromissos das três Convenções do Rio: UNFCCC, CDB e UNCCD, ao mesmo tempo em que gera benefícios sociais e econômicos.. A subsecretária da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro, Marie Ikemoto, apresentou metas e ferramentas estaduais: “Nosso desafio é ampliar a cobertura florestal de 33% para 40% até 2050, o que significa restaurar 440 mil hectares. Para isso, desenvolvemos o programa Olho no Verde, que monitora desmatamento e regeneração natural com imagens de alta resolução, além de estratégias de corredores ecológicos e pagamento por serviços ambientais”, afirmou.

Quem também palestrou sobre o tema foi Nicholas Locke, presidente da Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), que trouxe a experiência prática da iniciativa. “Hoje a REGUA administra cerca de 15 mil hectares, emprega 45 pessoas e mantém 30% do orçamento a partir do turismo, 30% de projetos de restauração e 40% de doações. Essa receita retorna às comunidades locais, mostrando que a restauração pode gerar emprego e renda, além de conservar a biodiversidade”.

Em sua fala, Márcio Macedo, representante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no evento, enfatizou o papel do banco no financiamento: “O BNDES começou com editais pequenos, mas que permitiram aprender a lidar com custos, tecnologias e atores. Hoje temos a maior carteira de crédito para restauração da história do banco, incluindo programas como o Floresta Viva e o Restaura Amazônia. A restauração não é apenas ambiental, é uma questão civilizacional, porque propõe uma nova forma de organizar a sociedade”.

Já Dora Nascimento, que integra a coordenação Conselho Ecológico Popular do Rio, destacou a dimensão social de políticas socioambientais. “A restauração precisa ser um instrumento de emancipação e inclusão. O Projeto de Lei de Restauração do RJ propõe remunerar saberes locais, fortalecer órgãos públicos como o INEA e a Faperj e garantir direitos de comunidades indígenas e quilombolas, que são restauradores originários”.

Ciência, Inovação e Finanças

O segundo painel abordou ciência, inovação e finanças, com foco no papel da pesquisa, das parcerias e dos instrumentos financeiros híbridos — como financiamento misto e mecanismos de mercado — para viabilizar a restauração em larga escala com qualidade. Thiago Belote, diretor de Florestas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, explicou como vem sendo feita a atualização do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), que tem participação do IIS.

“A restauração é uma agenda de desenvolvimento, que envolve segurança alimentar, geração de empregos e inclusão. Para chegar aos 12 milhões de hectares previstos, trabalhamos em três arranjos — áreas de preservação permanente, sistemas produtivos integrados e áreas públicas. Isso só será possível com governança descentralizada e participação social”.

Bernardo Strassburg reforçou o papel da ciência durante o painel. “O Brasil lidera o conhecimento em ecologia da restauração. Agora precisamos transformar cenários científicos em implementação concreta, garantindo permanência e qualidade nos projetos”.

Ilona Szabó, presidente do Instituto Igarapé, chamou atenção para os desafios financeiros para investir em ações de restauração. “As concessões de áreas para restauração têm grande potencial, mas ainda apresentam riscos elevados para investidores. É preciso construir políticas de Estado, com visão de risco compartilhado, coordenação entre poderes e mecanismos multilaterais que tragam a natureza para o centro da agenda de desenvolvimento e investimento”.

Já Rubens Benini, diretor de florestas da TNC Brasil e coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, apresentou a Agência Facilitadora do Pacto, que“busca articular os diferentes atores para acelerar a implementação. O desafio é transformar territórios que restauram dois mil hectares por ano em territórios capazes de multiplicar essa escala por meio de governança e profissionalização”, destacou.

No encerramento, Bernardo Strassburg afirmou que a convergência entre ciência, financiamento, governança e justiça socioambiental é essencial para transformar experiências locais em soluções nacionais.

“A COP30, em Belém, é uma oportunidade histórica para consolidar a restauração como elo entre compromissos internacionais e estratégias de desenvolvimento sustentável”

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