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Publicação na Nature ressalta a importância de uma meta global para os ecossistemas

Um novo estudo publicado na revista científica Nature, chama a atenção para a importância de que uma meta para a proteção e restauração dos ecossistemas do planeta seja incluída em um novo acordo global sobre a proteção da natureza.

As 196 nações signatárias da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas, criada na Rio-92, estão negociando um novo acordo global para a próxima década (2021-2030), e objetivos a serem atingidos até 2050. “É uma janela de oportunidade fundamental para mudar a trajetória da vida no planeta, que está em declínio acentuado devido à ação humana”, afirma Bernardo Strassburg, professor da PUC-Rio e diretor executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade, um dos co-autores do estudo.

A CDB inclui objetivos a serem alcançados para a proteção da biodiversidade em seus múltiplos níveis: diversidade genética, diversidade de espécies e diversidade de ecossistemas.

No último acordo global da CBD, que cobre a década 2011-2020, apenas metas para espécies e diversidade genética foram incluídas. Os ecossistemas não tiveram uma meta própria, sendo apenas parcialmente contemplados em metas relacionadas ao estabelecimento de áreas protegidas e restauração. O próprio Ministério do Meio Ambiente brasileiro reconhece a importância de políticas neste nível, refletida em seu Departamento de Conservação de Ecossistemas, ao lado de seus pares para espécies e patrimônio genético.

Ecossistemas são mais do que a soma das espécies que os compõe, e incluem interações entre conjuntos específicos de espécies com o meio ambiente que estas habitam. Estas interações geram sistemas ecológicos únicos: “A Mata Atlântica do litoral do nordeste brasileiro e a Mata Atlântica das montanhas de Itatiaia, por exemplo, são ecossistemas completamente diferentes, ainda que dentro de um mesmo bioma. A conservação de um não substitui a conservação do outro”, complementa Strassburg.

A importância dos ecossistemas para o bem-estar humano é entendida por populações tradicionais há milênios, e pela civilização ocidental desde, pelo menos, a Grécia antiga, quando Platão escreveu a respeito dos prejuízos para os gregos da perda da vegetação na região de Ática. Mais recentemente, a comunidade científica criou as expressões “Serviços Ecossistêmicos” e “Contribuições da Natureza para as Pessoas” para categorizar estes benefícios. Entre os 18 serviços comumente listados estão a provisão de água limpa, o controle de pragas, a polinização da agricultura e a regulação do clima global. É por estes impactos no bem estar humano que a conservação dos ecossistemas também é parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Avanços tecnológicos recentes, incluindo novos satélites e modelos [ver Figura 1 do artigo], permitem agora um melhor planejamento, implementação e monitoramento de políticas e ações voltadas para a conservação e a restauração dos ecossistemas. A Assembleia Geral das Nações Unidas batizou os anos de 2021-2030 como a Década da Restauração dos Ecossistemas.

A Convenção do Clima lista a conservação e a restauração dos ecossistemas como uma das mais promissoras soluções para a crise climática.

Na próxima semana, as nações signatárias da CBD reúnem-se em Roma para discutir suas novas metas globais, a serem acordadas em outubro na Convenção da CBD. Espera-se que desta vez uma meta no nível dos Ecossistemas seja acordada, e que a mesma tenha uma ambição equivalente aos desafios que a humanidade enfrenta. Tal meta deve incluir a reversão do quadro de perdas aceleradas dos ecossistemas, almejando que até 2030 a área e integridade dos ecossistemas naturais passe a aumentar, chegando em 2050 com pelos menos 20% de aumento em relação ao que temos hoje. “A conservação dos ecossistemas, em especial dos mais intactos, e sua restauração, em especial dos mais ameaçados, devem estar no centro de qualquer novo acordo global sobre a vida no planeta”, finaliza Strassburg.

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Foto: Francesco Ungaro / Pexels

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