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Restauração Ecológica: recuperação de ecossistemas degradados pode beneficiar mais de 11 mil espécies

Luisa Liévano

Você já ouviu falar em restauração ecológica? Essa prática consiste em recuperar áreas já degradadas para que voltem a cumprir seu papel na manutenção da biodiversidade e no equilíbrio climático. Ela é tão importante atualmente que a ONU declarou 2021-2030 como a “Década da Restauração”. Entre as metas globais está recuperar 30% das áreas degradadas do planeta até 2030.

E o Brasil é peça-chave nesse processo. O país tem uma das maiores riquezas naturais do mundo e, ao mesmo tempo, mais de 60 milhões de hectares de terras degradadas que podem ser restauradas. Para contribuir com o acordo global, o Brasil se comprometeu a recuperar 12 milhões de hectares até 2030, meta estabelecida no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG).

Para contribuir no enfrentamento desse desafio, elaboramos o estudo “Addressing the urgent climate and biodiversity crisis through strategic ecosystem restoration in Brazil”, publicado recentemente na revista Biological Conservation, que mostra o potencial transformador da restauração no Brasil.  

A recuperação de 30% das áreas degradadas de todos os biomas brasileiros poderia beneficiar mais de 11 mil espécies nativas. Isso porque, a restauração ecológica permite que ecossistemas degradados, ao serem recuperados, se expandam e ao se conectarem com outras áreas naturais, favoreçam o deslocamento e a sobrevivência das espécies. O estudo mostra que essa ampliação poderia ser de 60%.

O nosso estudo também foi pioneiro ao analisar todos os biomas brasileiros — Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal — com base em dados de campo coletados pela rede de pesquisa PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade), o qual reúne pesquisadores de todos os biomas brasileiros.

Identificamos como áreas prioritárias, por exemplo:  

  1. i) o arco do desmatamento na Amazônia, 
  2. ii) a faixa litorânea da Mata Atlântica,
  3. iii) os limites entre Caatinga e Mata Atlântica,  
  1. iv) as transições entre Pantanal e Cerrado e 
  2. v) a região central do Cerrado. Esses locais são estratégicos porque garantem maior ganho de habitat para a fauna e aumentam a conexão entre fragmentos já existentes, fortalecendo os ecossistemas.
  3. Usamos uma abordagem chamada Planejamento Sistemático da Conservação, que permite combinar diferentes critérios para identificar áreas estratégicas e garantir os maiores benefícios possíveis.

Em um país tão complexo, vasto e diverso, como escolher as áreas prioritárias para restaurar? Essa decisão não é simples. Ela precisa levar em conta fatores biológicos (como a diversidade de espécies), físicos (características dos ecossistemas), socioeconômicos (custos, usos da terra, comunidades locais) e até políticos (o engajamento de diferentes atores).

Claro que ainda há desafios. Nosso trabalho foi um primeiro passo. Para transformar esse potencial em realidade, será preciso incluir no planejamento critérios como custos de restauração, oportunidades econômicas, mitigação da mudança climática, risco de incêndios, serviços ecossistêmicos e, principalmente, o envolvimento das comunidades locais. O que mostramos é que restaurar ecossistemas no Brasil não é apenas uma meta ambiental: é uma oportunidade de proteger nossa biodiversidade única, combater a crise climática e construir um futuro mais sustentável. 

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