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Soluções Baseadas na Natureza: a jogada decisiva para o Brasil ser protagonista do campeonato
Bruna Pavani e Viviane Dib, do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS)
O combate às mudanças climáticas é como enfrentar um time imbatível fora de casa, sob chuva e torcida contra. As emissões de gases de efeito estufa seguem em alta, e os impactos já são sentidos no Brasil e no mundo: secas mais intensas, chuvas extremas, colheitas comprometidas e cidades vulneráveis.
Mas o Brasil tem uma chance de ouro para virar o jogo. Com uma defesa natural de peso — florestas tropicais, rios caudalosos manguezais, restingas, savanas, campos e a maior biodiversidade do planeta, o país pode apostar em uma jogada decisiva: as Soluções baseadas na Natureza. Ao restaurar ecossistemas e promover o uso sustentável da terra, o Brasil pode se tornar artilheiro global na corrida por emissões líquidas zero até 2050. E o melhor, essa estratégia também fortalece a economia, protege a biodiversidade e melhora a qualidade de vida da população. É gol de placa para o clima e para a sociedade!
Primeiro Tempo: a conservação é a nossa zaga imbatível
Antes de partir para o ataque, é preciso fechar o balão. No jogo climático, manter a floresta em pé é como escalar uma zaga sólida, que impede os gols contra mais perigosos. Zerar o desmatamento ilegal deve contribuir em 51% para o Brasil alcançar as emissões zero do país – reduzindo em média 446 milhões toneladas de CO₂e por ano até 2050. Se a tática for ousada e incluir também o desmatamento legal, esse número sobe para 603 MtCO₂e/ano — contribuindo em 60% do alcance do netzero do país – deixando o placar ainda mais favorável para o Brasil.
Além disso, a conservação é uma das únicas zagueiras capazes de conter outro time adversário de peso — a perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Ela evita a perda de espécies, regula o clima local, protege a água, o solo, o ar, mantem o sustento e a qualidade de vida das pessoas — e garante que o jogo continue sendo possível no planeta.
Segundo Tempo: a restauração entra como centroavante
Agora é hora do ataque organizado. O Brasil tem como meta restaurar 12 milhões de hectares até 2030, mas, para virar o jogo de verdade, precisamos ser mais ambiciosos e colocar a restauração na boca do gol — como o grande artilheiro da equipe. Uma meta mais ousada, como restaurar 30% de cada bioma brasileiro (conforme o Target 2 do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal), poderia render um gol de placa climático, com a captura de até 9.800 MtCO₂e.
Se a jogada for bem armada, escolhendo áreas prioritárias para a restauração, os resultados são ainda mais expressivos: podemos beneficiar mais de 11 mil espécies, aumentar o habitat disponível em até 10% e melhorar a conectividade funcional da paisagem em 60%. Cada hectare restaurado é um passe certeiro para a proteção da vida na Terra.
Prorrogação: os co-benefícios que decidem o campeonato
Quando o jogo aperta, são os detalhes que definem o campeão. As Soluções baseadas na Natureza provaram ser a tática mais completa para enfrentar a crise climática e sair ganhando em biodiversidade. E elas vão além, armando jogadas de efeito que decidem a partida em várias frentes:
- Redução de riscos de desastres ambientais: ecossistemas preservados ou recuperados funcionam como goleiros de elite, defendendo o time contra secas, enchentes, ondas de calor e até a erosão costeira.
- Combate à crise hídrica: atuam como meio-campistas que garantem a circulação da bola — ops, da umidade — através de passes que viram nuvens, chuva e vapor por todo o campo atmosférico. Assim, essas Soluções garantem a regulação do fluxo hídrico, a recarga de águas subterrâneas e a qualidade da água.
- Gol de empate entre agricultura e natureza: aumentam a produtividade agrícola, por meio da oferta de polinizadores, da qualidade do solo e da regulação climática local. Essa tática colabora ainda com a segurança alimentar, ou seja, fim da fome (não apenas de bola) no país.
- Fortalecimento da socioeconomia: jogando bonito com empregos verdes, renda local e cadeias produtivas sustentáveis, como agroflorestas e ecoturismo, essas Soluções driblam lacunas sociais para o desenvolvimento sustentável. Destaque para os jogadores regionais, como o açaí da Amazônia, o buriti do Cerrado e o cacau da Mata Atlântica — verdadeiros craques de um time que alia natureza, cultura e renda.
Placar Final: o jogo tem que mudar
O Brasil precisa mudar de tática se quiser garantir um jogo ofensivo e com chance real de vitória. Não dá mais para jogar no improviso. Ainda convivemos com falhas graves na governança ambiental, que minam nossa defesa e comprometem o ataque. É hora de regularizar o Código Florestal e corrigir os próprios gols contra que seguimos marcando. Investir em monitoramento, transparência e participação social pode ser o VAR da sustentabilidade — garantindo que as jogadas sigam as regras do clima e da justiça ambiental.
O apito final ainda está longe — mas o relógio corre e o jogo já começou. Mudar de estratégia depois pode ser tarde demais.
A boa notícia? Temos tudo para vencer: elenco qualificado (tecnologia de ponta), um técnico experiente (cientistas qualificados) e um estádio lotado de torcedores (sociedade engajada) prontos para apoiar o time da sustentabilidade. Se o Brasil investir com inteligência em Soluções baseadas na Natureza, podemos não só virar o jogo climático, mas também inspirar o mundo com um modelo que alia resiliência, benefícios ambientais e justiça social.
A hora do Brasil jogar bonito é agora. Pressão alta!