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15.12.23

COP 28 do Clima: reconhecendo avanços, enfrentando desafios e o papel do Brasil para um futuro sustentável

Rafael Loyola, diretor executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), acompanhou de perto as negociações da COP 28 do Clima, em Dubai. Neste texto, Rafael faz um balanço geral do que pode observar na Conferência, no qual reconhece avanços, aborda os desafios persistentes e comenta o papel do Brasil como anfitrião da COP 30, em Belém. Confira:

Durante toda a COP 28 do clima em Dubai, o Instituto Internacional para Sustentabilidade esteve imerso em discussões cruciais sobre o futuro do planeta. Quero compartilhar por aqui um balanço deste evento que reuniu líderes globais, cientistas e ativistas em uma busca unificada por soluções às mudanças climáticas.

Durante as intensas negociações da COP 28, presenciamos avanços significativos que merecem reconhecimento. Diversos países reafirmaram seus compromissos com metas de redução de emissões, sinalizando uma compreensão crescente da urgência climática. O compromisso com o teto de 1,5°C foi mantido e, embora estejamos muito perto de não conseguir atingir essa meta, estamos muito melhores que 2015, quando firmamos o Acordo de Paris.

O aumento dos investimentos em energias renováveis e a aceleração na transição para uma economia de baixo carbono são indicadores positivos de que a mensagem sobre a necessidade de ação imediata está ecoando. Além disso, vi uma interação muito genuína e positiva entre governos, setor privado e organizações não governamentais, destacando a importância da colaboração multissetorial. O diálogo com povos indígenas e comunidades tradicionais também foi notório, pelo menos no caso do Brasil.

Além disso, a menção explícita a uma transição afastada dos combustíveis fósseis (o acordo diz “transitioning away from fossil fuels”) é, de fato, uma vitória após 28 COPs sem explicitar a principal causa das mudanças do clima. Esse era o assunto mais esperado das negociações, complexo de ser alcançado e, embora ainda seja algo aspiracional, ter essa menção no texto é realmente positivo.

No entanto, não podemos ignorar os desafios persistentes e emergentes que continuam a assombrar o planeta. O aumento das temperaturas, eventos climáticos extremos e a perda acelerada de biodiversidade exigem uma resposta mais rápida e abrangente. Os países precisam ser mais ambiciosos no corte de emissões de gases de efeito estufa. Precisamos reduzir nossas emissões em 43% até 2030 e em 60% até 2050. É um desafio e tanto e apenas nos afastarmos dos combustíveis fósseis não será suficiente.

Além disso, a transição para uma economia verde precisa ser inclusiva, garantindo que nenhuma comunidade ou setor seja abandonado. Neste contexto, a criação de um fundo de perdas e danos para apoiar os países mais vulneráveis às mudanças do clima também deve ser comemorado. A realidade dos países para lidar com a crise climática é extremamente diferente e esse fundo visa apoiar uma transição verde mais justa. A COP 28 nos lembra que, para alcançarmos uma verdadeira sustentabilidade, devemos abordar as questões sociais e econômicas em conjunto com as ambientais.

Finalmente, destaco a importância que foi dada às soluções baseadas na natureza e a integração de ações que visem ao mesmo tempo lidar com a crise climática e a crise de biodiversidade. O acordo aborda o papel da biodiversidade e dos ecossistemas na contenção dos efeitos negativos da mudança do clima e reforça a necessidade de frear e, idealmente, reverter a perda de vegetação nativa e desmatamento global, até 2030.

Falando em natureza, o Brasil tem um potencial enorme de ser protagonista do maior acordo sobre a crise climática no mundo. Isso porque a #COP30, daqui a dois anos, será em Belém. Até diria que a COP 30 começou na COP 28! Acompanhei de perto o governo do estado do Pará e o empenho das empresas e sociedade civil para uma articulação forte, visando um grande evento em terras amazônicas.

Agora resta acompanhar como serão implementadas as decisões nos próximos anos e como avançaremos entre a COP 29 – a ser realizada no Azerbaijão, no ano que vem – e a tão esperada COP 30, no Brasil.

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